O programa passa na rádio ‘Antena Minho’ às quintas-feiras, entre as 14 e as 15 horas, e o jornal ‘Correio do Minho’ desenvolverá o assunto nas edições de segunda--feira, de 15 em 15 dias.
Fomos ao encontro das mulheres agricultoras percorrendo as freguesias de Alvite, Cabeceiras de Basto, e Vilar-Chão, Vieira do Minho, para confirmar que há muito a agricultura deixou de ser uma actividade só para os homens.
Fomos ao encontro das mulheres agricultoras percorrendo as freguesias de Alvite, Cabeceiras de Basto, e Vilar-Chão, Vieira do Minho, para confirmar que há muito a agricultura deixou de ser uma actividade só para os homens.
Em Vilar-Chão contaram-nos: “Aqui toda a gente trabalha. O trabalho da mulher aqui é duro. As mulheres fazem o mesmo trabalho que os homens. Há homens que vão trabalhar na construção e outros no estrangeiro, são as mulheres que têm de trabalhar [no campo]. (...) É dentro e fora como se costuma dizer. A mulher trabalha em tudo, em casa e em tudo.”
De facto, quando a actividade agrícola começou a ser menos rentável para o agregado familiar, houve que encontrar trabalho noutros sectores. Mas o mercado de trabalho pedia mais homens do que mulheres, e eles foram saindo, principalmente para a construção civil. Muitos tiveram mesmo que emigrar. Ouvimos, destas mulheres, muitas histórias de emigração, de busca de oportunidades que a sua terra insistia em negar-lhes.
De facto, quando a actividade agrícola começou a ser menos rentável para o agregado familiar, houve que encontrar trabalho noutros sectores. Mas o mercado de trabalho pedia mais homens do que mulheres, e eles foram saindo, principalmente para a construção civil. Muitos tiveram mesmo que emigrar. Ouvimos, destas mulheres, muitas histórias de emigração, de busca de oportunidades que a sua terra insistia em negar-lhes.
Estão incluídas na vaga de emigração que existiu em Portugal nos anos 70 e 80. Algumas viveram lá fora, trabalharam noutras áreas, mas tornaram, pelo amor à terra que as viu nascer. E é hoje da terra que vivem. Ana Paula Correia é um exemplo vivo: “Saí daqui muito cedo. Trabalhei até aos 17 anos na agricultura, mas depois saí, fui para Lisboa e trabalhei como cozinheira, profissão que eu não gostei muito. Depois voltei à terra, casei e fui para a Suíça, onde também exerci como cozinheira. Da Suíça vim e fui para a Espanha. Depois tornei a vir para cá. O meu pai tem dez vacas, muitos vitelos e então a gente está habituada a trabalhar na agricultura. E pronto”.
Para as que não emigraram, vemos que apenas restou ficarem por casa, desdobrando-se em tarefas domésticas e no cuidado dos filhos, que creches também não as havia. Assim, a permanência no lar ditou que o trabalho no campo passasse a ser mais uma das responsabilidades.
Para as que não emigraram, vemos que apenas restou ficarem por casa, desdobrando-se em tarefas domésticas e no cuidado dos filhos, que creches também não as havia. Assim, a permanência no lar ditou que o trabalho no campo passasse a ser mais uma das responsabilidades.
Actualmente, vemos que a agricultura é parte decisiva das suas vidas. Estas mulheres, com o seu grande amor à terra, vêem-se semeadoras do seu próprio destino e gostam muito do que fazem. A história de Teresa Alves não engana. “Comprei aqui uma casa, tenho aqui uma casa, tenho um grande campo, traba- lho na lavoura. Tenho porcos, tenho coelho, tenho pitas, tenho patos, tenho trabalho. Sei trabalhar, a minha vida foi sempre no campo desde que nasci, peque- nina na lavoura e gosto muito.”
Hoje, os dados mostram que, em Portugal, 80% de todo o trabalho agrícola é realizado por mão-de-obra familiar e que um terço dos produtores agrícolas são mulheres. Acreditamos, no caso do distrito de Braga e pelos relatos que ouvimos, que o número supere mesmo os 30%:
Os dados do último recenseamento agrícola revelam uma crescente tendência para o desaparecimento de explorações agrícolas, na sua maioria de pequena dimensão. Também a criação de animais regista uma quebra acentuada. São alterações que em muito se ficam a dever ao aumento dos custos de produção destas actividades e à insuficiência de apoios. Dyanne, agricultora mas também tesoureira da junta de freguesia de Vilar-Chão, explica-nos: “Um vitelo que vá para o matadouro e que dê, vamos imaginar, mil euros, supostamente. Só que já leva uns tantos em rações e outras coisas e as pessoas pensam que não”.
As dificuldades deste sector estão sempre à espreita. Os custos de produção têm-se tornado insustentáveis, e estas mulheres, como tantas outras, acabam por ter de fazer uma grande ginástica na gestão das contas, que o aumento do custo de vida não se sente só nas cidades. Lúcia adianta: “Hoje em dia é muito mais dificil viver que há uns anos atrás. Em vez de comprar dois ou três sacos de ração para dar aos animais, agora temos de misturar com o milho porque assim já não se gasta tanto. Já ren- de mais”.
E Dyanne completa: “Ai, às vezes as pessoas dizem assim: ‘é a um euro, um euro não é nada’. Não é bem assim. Se recuarmos, um euro são duzentos escudos. Antigamente, por duzentos escudos comprava-se quase três quilos de maçãs. Agora o que é que compramos com um euro?”
O trabalho na terra dá-lhes alimento, mas cada vez vai chegando menos para todas as suas necessidades, e só um grande esforço físico e económico vai permitindo que a actividade não desapareça.
Para estas mulheres, o acto de trabalhar a terra é por isso um acto de grande amor e resistência.
Hoje, os dados mostram que, em Portugal, 80% de todo o trabalho agrícola é realizado por mão-de-obra familiar e que um terço dos produtores agrícolas são mulheres. Acreditamos, no caso do distrito de Braga e pelos relatos que ouvimos, que o número supere mesmo os 30%:
Os dados do último recenseamento agrícola revelam uma crescente tendência para o desaparecimento de explorações agrícolas, na sua maioria de pequena dimensão. Também a criação de animais regista uma quebra acentuada. São alterações que em muito se ficam a dever ao aumento dos custos de produção destas actividades e à insuficiência de apoios. Dyanne, agricultora mas também tesoureira da junta de freguesia de Vilar-Chão, explica-nos: “Um vitelo que vá para o matadouro e que dê, vamos imaginar, mil euros, supostamente. Só que já leva uns tantos em rações e outras coisas e as pessoas pensam que não”.
As dificuldades deste sector estão sempre à espreita. Os custos de produção têm-se tornado insustentáveis, e estas mulheres, como tantas outras, acabam por ter de fazer uma grande ginástica na gestão das contas, que o aumento do custo de vida não se sente só nas cidades. Lúcia adianta: “Hoje em dia é muito mais dificil viver que há uns anos atrás. Em vez de comprar dois ou três sacos de ração para dar aos animais, agora temos de misturar com o milho porque assim já não se gasta tanto. Já ren- de mais”.
E Dyanne completa: “Ai, às vezes as pessoas dizem assim: ‘é a um euro, um euro não é nada’. Não é bem assim. Se recuarmos, um euro são duzentos escudos. Antigamente, por duzentos escudos comprava-se quase três quilos de maçãs. Agora o que é que compramos com um euro?”
O trabalho na terra dá-lhes alimento, mas cada vez vai chegando menos para todas as suas necessidades, e só um grande esforço físico e económico vai permitindo que a actividade não desapareça.
Para estas mulheres, o acto de trabalhar a terra é por isso um acto de grande amor e resistência.
30-01-2012 - Correio do Minho
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