Procura de livros sem as correrias habituais

O ritual repete-se todos os anos. Mas as filas intermináveis nas livrarias, por esta altura do ano, para comprar os manuais escolares já não são o que eram. Para dar mais tranquilidade aos clientes, os empresários tudo têm feito para evitar ao máximo o transtorno de horas à espera e de idas constantes à livraria.


Na Livraria Minho, no Largo da Senhora-a-Branca, uma das mais antigas da cidade e das mais procuradas por estes tempos, optou por abrir as portas durante todo o mês de Agosto. “Sempre estivemos fechados 15 dias em Agosto, mas já ano passado decidimos manter sempre as portas abertas. Agora é mais calmo, evitam-se muitas filas e muita confusão”, referiu Augusto Ferreira, sócio-gerente daquela livraria.

Apesar de faltar pouco tempo para começarem as aulas, Augusto Ferreira admitiu que “ainda é cedo” para as habituais correrias. “Está a correr bem e já vendemos milhares de livros”, assegurou aquele responsável, salientando que, neste momento, “só não há os livros que os editores ainda não têm. Os pedidos de livros às editoras foram feitos a 15 de Julho e só os livros que são adoptados este ano pela primeira vez é que estão mais atrasados, mas os editores também não têm culpa, porque as escolas só forneceram a lista dos livros perto do dia 15 de Julho”.

Sobre o novo acordo ortográfico e a possibilidade de na mesma sala haver livros com grafias diferentes, Augusto Ferreira acredita que isso não vai complicar a vida aos alunos. “O acordo veio para fazer mais uma coisa, no meio desta confusão toda ainda vem mais uma e o pior é que não vai adiantar nada para o desenvolvimento, quer do país, quer das pessoas. Só vai trazer ainda mais dúvidas”.

Em relação ao preço dos livros, o sócio-gerente sublinhou que “o aumento foi ligeiro, mas os livros continuam muito caros”. E exemplificou: “os livros do 1.º ciclo rondam os 60 euros, já para o 5.º ano são necessários 200 euros e os do 7.º ano, se levarem todos, ficam à volta dos 280 euros”. Perante estes números, o responsável da livraria acredita que “não é fácil gerir o orçamento, sobretudo, para quem está desempregado”.

Já na livraria LibroBraga, na Rua S. Gonçalo, um dos sócios gerentes, Bento Barreto, evidenciou o “ambiente calmo” que se vive por estes dias. “Ainda não há stress porque as pessoas estão a gozar as férias e não pensaram no assunto, outros, talvez, estejam à espera do salário para vir comprar os livros”, atirou.

Aberta há cinco anos e meio, a Librobraga “tem vindo a crescer e tem aumentado a procura dos livros escolares, mas isso é natural porque se apostou num serviço diferente”, justificou aquele responsável, salientando que o que se pretende é que “as pessoas, de preferência, venham cá apenas duas vezes, uma para encomendar os livros e outra para os levantar”. E para tudo funcionar bem, depois da encomenda estar completa, a livraria contacta por e-mail ou sms o cliente a avisar. “O objectivo é fazer com que as pessoas não tenham que andar sempre a correr para aqui e que não tenham que esperar horas na fila”.

Bento Barreto admitiu, também, haver “algumas falhas pontuais de livros novos, mas se chegarem antes de 15 de Setembro, não há problema, caso contrário, os professores, pais e alunos começam a ficar preocupados e stressados”.
Apesar do preço dos livros ter aumentado pouco, Bento Barreto salientou que “poderá custar mais no orçamento das famílias, já que têm menos recursos”.

E foi mais longe: “os livros são muito caros, há livros a 24 e 25 euros e até mais caros que incluem o livro, fichas e CD. Para o 12.º ano, por exemplo, o livro de Matemática ou de Psicologia ultrapassam os 30 euros, o de Matemática para o 4.º ano custa mais de 24 euros. Às vezes, as famílias conseguem poupar um pouco porque reutilizam os livros dos irmãos, primos e até vizinhos”.


Em relação ao material escolar é diferente. “As pessoas primeiro compram os livros e só mais tarde é que pensam no material escolar. No caso do 1.º ciclo é o professor que dá a lista do material e as pessoas só compram depois das aulas começarem”, vincou Bento Barreto, referindo, que nestes casos, as pessoas já trazem as listas de casa para “poupar o máximo de dinheiro possível”.

Manuais continuam caros

João Lopes cumpre religiosamente o mesmo ritual todos os anos: comprar os manuais escolares para os netos. O mesmo acontece com muitas famílias por esta altura do ano. E apesar de só alguns livros terem aumentado, o “rombo” do orçamento familiar é sempre “muito grande”.
Em média por ano, este bracarense, que ontem comprava os manuais na Livraria Minho, gasta para o neto que vai para o 4.º ano e para neta que passou para o 7.º ano, 250 a 300 euros.


“Este ano não vai chegar”, lamentou João Lopes, já que a neta “precisa de mais livros do que é habitual”. Como os netos têm alguma diferença de idade, os livros por norma não dão de um para o outro, o que quer dizer que todos os anos tem que comprar os livros todos. “Só para a minha neta são 11 livros, é muita coisa”, atirou.

Este bracarense desloca-se sempre à Livraria Minho. “Já cá comprava os livros para os meus filhos. Ano passado tive mais problemas, este ano como vim mais cedo está tranquilo e levo quase todos os livros de uma vez”, frisou.
Entretanto, a compra do material escolar vai passar para segundo plano e será feita nas grandes superfícies comercais “porque é mais barato”, mesmo assim este bracarense gasta em média 100 euros, mas também aproveita para fazer um investimento para todo o ano.

Também Fátima Queirós já comprou os livros para os dois filhos, ele no 4.º ano e ela no 9.º ano.
“Já deixei na livraria mais de 180 euros, mas ainda faltam livros”, confidenciou esta bracarense, que este ano a compra dos livros fica mais pesada no orçamento familiar, já que não vai ter direito ao apoio de 70 euros do Estado como aconteceu ano passado.

“Este ano não vou comprar o livro de Matemática para a minha filha. A escola que frequenta é uma escola-piloto do novo programa de ensino da Matemáta e o livro do ano passado está novo, não o utilizaram e podiam, pelo menos, ter alertado os alunos”, lamentou.

Neste momento, Fátima Queirós ainda não comprou o material escolar para os filhos. Esta altura do ano é “sempre um rombo” ao orçamento da família, mas “também há sempre o cuidado de nos precavermos para poupar mais um pouco para nesta altura não custar tanto”.


Esta bracarense admitiu que “o maior rombo” do ano passado foi a compra do material para a disciplina de Educação Visual. “Foi muita coisa e gastei muito dinheiro. Este ano como ela vai para Educação Tecnológica espero que não precise de gastar tanto dinheiro em material”, vincou.

23-08-11 - Correio do Minho

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