‘Prata Chapeleiro’ comemorou 103 anos


O chapeleiro mais antigo da cidade de Braga comemorou, no dia de ontem, 103 anos. O segredo para a longevidade, confessou António Costa, encontra-se na “graça de Deus”.

António Costa, também conhecido por ‘Prata Chapeleiro’, recebeu o ‘Correio do Minho’ em sua casa, no dia do seu aniversário, e contou um pouco da sua longa história de vida. Ficou evidente que já passou por mui-to, já viu de tudo um pouco, viveu tempos difíceis, mas hoje garante ser uma pessoa feliz.

Apesar da idade, que não aparenta, António Costa revela sentido de humor, uma memória invejável, e relata com emoção histórias do passado.

Foi com 12 anos que começou a trabalhar na indústria chapeleira, passando pela Fábrica do Taxa, Júlio Lima e Fábrica Social, até aos seus 54 anos, altura em que esta indústria fechou as portas na cidade. “Era um trabalho muito pesado, mas eu gostava”, contou.

Nascido a 17 de Janeiro de 1910, o ‘Prata Chapeleiro’ enfrentou as duas grandes guerras, o período salazarista, mas nos dias de hoje demonstra uma grande alegria de viver.

“Já passei pela fome, pela peste e pela guerra. Erámos 11 irmãos e três deles morreram no mesmo dia vítimas da peste”, lamentou.

A memória não falha a este centenário que relatou alguns dos momentos mais marcantes da sua vida, entre os quais destacou a miséria que viveu na altura da guerra com a Alemanha. “Faltava pão, arroz, batatas, faltava tudo. Os próprios labradores não tinham alimentos, já que estes eram levados para fora do país. Quando pedíamos alguma coisa aos labradores eles respondiam: ‘eu nem para mim o tenho e trabalho nas terras, os fiscais levaram-me tudo’”, recordou.

Contudo, António Costa tem também boas lembranças e foi com saudade e carinho que recordou a falecida esposa. Com Susana, assim se chamava a sua mulher, diz ter sido muito feliz durante os mais de 50 anos que estiveram casados. O casal teve dois filhos, e hoje António Costa tem nove netos, 22 bisnetos e 2 trinetos.

“Fui muito feliz, mas também enfrentei muita pobreza. Não tinha pão, nem dinheiro, mas nunca deixei que os meus filhos passassem fome”, frisou.

A filha Maria, com que António Costa vive actualmente, garante que o centenário ainda é autónomo, e apesar da idade não tem grandes problemas de saúde. “Limpa a louça e varre a cozinha” contou Maria Costa com um sorriso nos lábios.

O ‘Prata Chapeleiro’ fez grandes elogios à filha Maria. “Todos os pais tivessem uns filhos como a minha filha que trata de mim com todo o gosto. Mas eu também não a deixo ficar mal, faço tudo o que posso por ela”, garantiu. Até hoje António Costa continua a usar chapéu, e sempre que o tempo permite vai dar um passeio e encontra-se com os amigos. O mais difícil, confessa, “é subir as escadas”.

“Saudades do passado não tenho, o meu passado foi sempre encolhido, mas hoje sou muito feliz, graças a Deus, não posso pedir mais felicidade do que a que tenho”, concluiu.

2013-01-18 - Correio do Minho

Sem comentários:

Enviar um comentário