Mais de dois mil caminharam pelo autismo



Foram mais de duas mil as pessoas que fizeram questão de marcar presença na 2.ª Caminhada Solidária, organizada, ontem de manhã no centro da cidade, pela Associação para a Inclusão e Apoio ao Autista (AIA). “Acima de tudo temos aqui muitas famílias e esse era o nosso grande objectivo”, referiu a presidente da associação, Ana Paula Leite, admitindo que o facto do treinador do Sp. Braga, Leonardo Jardim, se ter associado a esta causa fez ‘disparar’ o número de participantes.


“A divulgação foi muito boa e o facto do treinador do Sp. Braga ter apoiado a nossa caminhada acho que deu outra credibilidade para que as pessoas fossem mais participativas”, referiu a presidente da AIA, momentos antes do sinal de partida para esta 2.ª caminhada.

O certo é que a mensagem passou e os bracarense mostraram-se mais uma vez solidários. “As famílias que, até agora, pensavam que estavam sozinhas e que não havia mais ninguém a lidar com esta problemática, espero que a partir de agora tenham consciência que existem muitas famílias a viver a mesma situação e que nos procurem”, apelou a responsável, lembrando que em Braga existem cerca de 400 pessoas que sofrem de espectro de autismo e apenas 185 estão associadas à AIA.

Depois desta caminhada, a AIA está já a trabalhar na próxima actividade. “Estamos a pensar num arraial minhoto para se realizar em Palmeira em Maio ou Junho. O objectivo destas iniciativas é arranjar fundos, mas também conviver e um arraial minhoto é isso mesmo, festa e alegria”, justificou.

A 2.ª caminhada solidária contou com o apoio da Câmara Municipal de Braga, do Sp. Braga, do Pingo Doce, da Junta de Freguesia de Palmeira, do Regimento de Cavalaria n.º 6 (RC6), da PSP e da Scholl Eventos.
A inscrição custou 2,5 euros, sendo que os participantes receberam uma t-shirt no local da prova.

A vereadora da Câmara Municipal de Braga, Palmira Maciel, também não faltou à convocatória e participou na caminhada solidária. “Tinha que estar aqui, porque esta iniciativa é fundamental”, justificou a vereadora, realçando a necessidade de “sensibilizar as pessoas para a causa” e ao mesmo tempo para a prática desportiva saudável. “São dois bons motivos para aqui estar”, confessou Palmira Maciel que admitiu ter “um carinho especial” pela AIA, já que a viu “nascer e crescer”.

Todos juntos por uma causa

Uns participaram porque têm familiares que sofrem de espectro de autismo e vivem diariamente lado a lado com a doença. Outros marcaram presença por uma questão de solidariedade. Juntos caminharam a favor da Associação para a Inclusão e Apoio ao Autista (AIA).


Pedro Costa, de Gualtar, participou na caminhada com alguns familiares. “A afilhada da minha mãe é autista e acompanhamos de perto a situação dela e, por isso, estamos cá”, justificou aquele bracarense, assegurando que estão sempre prontos “para ajudar no que for preciso”.
No início, Pedro Costa admitiu que “não foi fácil”, mas depois foi “aprender a lidar com a situação e adaptar-se tudo à menina, que é uma criança feliz”.

Marco Carneiro, de Gondizalves, “não podia ficar indiferente” a esta iniciativa, até porque namora com uma jovem que sofre de espectro de autismo. O jovem admitiu que “é muito complicado e, às vezes, custa lidar com determinadas situações, mas o amor supera tudo”.

A namorada, Fátima Alves, também tem consciência que a tarefa de Marco não é fácil. “O nosso caso é a prova que é perfeitamente possível ter uma vida normal”, confidenciou a jovem, referindo que “não tem sido fácil, mas vai-se superando as dificuldades pouco a pouco”. Fátima enalteceu a realização desta iniciativa, já que “é fundamental sensibilizar a população para a doença”.

Mais à frente, o ‘Correio do Minho’ falou com duas amigas que fizeram questão de participar na caminhada “por amor à causa”. “Sinto orgulho em estar aqui e sempre que posso apoio este tipo de iniciativas”, frisou Maria José, acreditando que “todos juntos podemos ser mais fortes e, neste caso, permitir às crianças a terem uma vida perfeitamente normal”.

A mãe trabalhou durante muitos anos no Porto com autistas, por isso, Maria José sabe que “é um trabalho difícil, mas muito salutar”. A amiga Ercília Machado é auxiliar numa escola e também já teve que lidar com crianças autistas. “Precisam de muita atenção e carinho”, frisou Ercília Machado.


Carminda e Vânia Abreu decidiram passar o ‘dia das madrinhas’ com as filhas e afilhadas, Clara e Manuela, “de uma forma diferente”. “Tivemos conhecimento da caminhada e decidimos participar pela causa. Este problema pode afectar a todos e não sabemos o dia de amanhã, por isso, temos que ajudar sempre”, confessaram.

AIA quer terapia em casa e CAO para os autistas

“As pessoas com autismo devem poder partilhar dos mesmos direitos e privilégios de toda a população europeia na medida das suas possibilidades e tomando em consideração os seus melhores interesses”
in Carta para as pessoas com autismo

Na data de celebração do Dia Mundial para a Consciencialização do Autismo, a presidente da Associação para a Inclusão e Apoio ao Autista (AIA), Ana Paula Leite, reclamou a necessidade das obras de requalificação e ampliação da sede, em Palmeira, para a construção do Centro de Actividades Ocupacionais (CAO), bem como a necessidade de levar a terapia a casa das crianças com autismo.

A esperança de vir a obter brevemente financiamento para a ampliação das actuais instalações mantém-se, aguardando por nova oportunidade de financiamento estatal, ao abrigo do Programa Operacional Potencial Humano (POPH).
Para estas obras de adaptação, Ana Paula Leite destacou a importância do projectado CAO para acudir às necessidades de autistas que, findo o período de escolaridade obrigatória, ficam sem estruturas que promovam a sua socialização.

A direcção da AIA vai insistir junto dos responsáveis do Centro Distrital de Solidariedade Social de Braga para a necessidade da celebração de acordos de cooperação para o acompanhamento especializado destas crianças e jovens. “Queremos remodelar o nosso espaço e pretendemos ter o CAO para funcionar como espaço suporte, porque não queremos lá os meninos o dia todo, o objectivo é criar protocolos com várias entidades. Pretendemos sair com eles, ir à piscina, ir às compras ao supermercado, ir ao cinema ou à biblioteca”, explicou a presidente.


A direcção da AIA pretende também celebrar um acordo atípico com a Segurança Social para intervenção nestes meninos em regime de ambulatório. “Fazer terapia na associação ou num gabinete não chega. A técnica fica com dúvidas se em casa continuam a fazer a terapia. Por isso, o objectivo é a técnica ir a casa trabalhar a criança e a família, porque, às vezes, a família não faz porque não sabe como fazer e desta forma conseguiremos arranjar estratégias para melhorar a vida da criança”, justificou Ana Paula Leite.

Esta síndrome comportamental atinge milhares de pessoas. Em Portugal não se sabe ao certo quantos autistas existem. No distrito de Braga pensa-se que a prevalência seja de 400 pessoas. E para dar resposta aos casos de autismo verificados no distrito nasceu em Outubro de 2007 o núcleo de Braga da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA).

Após um grupo de pais ter iniciado uma série de reuniões de ‘Partilhas’ no Departamento de Pedopsiquiatria do então Hospital S. Marcos e tendo-se constatado os inúmeros problemas relacionados com a falta de apoios aos pais e consequentemente aos autista do distrito deu-se início ao projecto sendo eleito um grupo coordenador.
Em Janeiro de 2010 foi constituída a Associação para a Inclusão e Apoio ao Autista (AIA).

“Decidimos avançar com a AIA com todas as vantagens e desvantagens que isso significava, mas lá temos avançando”, contou a presidente, admitindo que “é uma luta diária para ter associação a funcionar”. Actualmente, a instituição tem cerca 185 associados, a maior parte deles familiares de pessoas com espectro de autismo, estando a apoiar 34 crianças.

A associação, que ocupa as instalações da antiga escola do Assento, na freguesia de Palmeira, tem disponível apoio com terapia da fala, terapia ocupacional, psicomotrocidade, psicomotrocidade em meio aquático, psicologia e música.


Para os pais, a AIA promove bastantes convívios com as crianças e sem elas e realiza as reuniões de partilha, em dois grupos (para pais de crianças com perturbações de autismo e outro para pais das crianças com síndrome de Asperger).

“Nestes encontros, os pais falam o que lhes vai na alma. Todos temos em comum o mesmo problema: o autismo. E, por isso, falamos todos a mesma linguagem. Desta forma conseguimos mostrar aos pais que não estão sozinhos e sentimo-nos mais seguros”, confidenciou a responsável, que é mãe de uma menina autista.
Os pais depois de ter um diagnóstico, que normalmente é por volta de três anos, passam a fase da revolta, do luto, até chegar à aceitação. “A partir daqui começam a sair com eles e levam uma vida normal, mas não é fácil. Não é fácil mas consegue-se, o importante é não desistir deles nem de nós”, alertou.

02-04-2012 - Correio do Minho

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