Crianças pediram protecção a S. Vicente

Mães e avós e muitas crianças. Foi um ‘corridinho’ durante todo dia de ontem na igreja de S. Vicente. A relíquia do mártir esteve exposta e todos aproveitaram para oferecer velas e pedir a intercessão de S. Vicente contra a doença da varíola, num ritual secular.


Maria, de cinco anos, acompanhada pela mãe, foi uma das crianças que ali esteve pela primeira vez. “Estou a pôr velas numa caixa para o S. Vicente, para ele cuidar de mim”, confidenciou a menina. “Segundo dizem os mais antigos, S. Vicente é o advogado das bexigas, devendo-se, por isso, no dia do patrono da nossa paróquia, trazer as crianças para que o santo as proteja. É, por essa razão, que viemos aqui”, justificou, entretanto, a mãe da menina, Rosa Lopes.

Ana Rita também não foi sozinha rezar ao santo. Consigo estava a mãe, Luísa Carneiro. “Já vinha cá com a minha mãe e vim muitos anos trazer o meu sobrinho, que agora tem 21 anos. Agora trago a minha filha”, contou Luísa Carneiro, enquanto comprava as velas para colocar junto do santo. “Sempre ouvi dizer que era bom que as velas a oferecer fossem em número ímpar. Mal não faz, por isso, comprei sete para pedir para os familiares mais próximos”, justificou aquela habitante de S. Vicente.

Há já muitos anos que a avó de Maria Francisca, de dois anos, cumpre a devoção ao santo, pedindo-lhe protecção para as crianças e a família. “Venho num acto de fé e também para pedir ao mártir que proteja os meus filhos e a minha família. Antigamente também vinha ver as fogueirinhas à noite”, contou Maria Manuela Queirós.

O casal Márcia Rodrigues e Carlos Costa também levaram os filhos Inês e Dinis à igreja de S. Vicente. “É a primeira vez que trazemos cá os nossos filhos, mas já vínhamos cá em pequenos por fé e tradição”, contou Márcia Rodrigues.

Festa contou, pela primeira vez, com banda de música

Organizado pela Irmandade do Mártir de S. Vicente, o programa das festividades em honra do padroeiro incluiu, pela primeira vez, a actuação, ontem à tarde, da Banda Musical de Aboim da Nóbrega, no concelho de Vila Verde.
“Esta festa tem uma espécie de identidade cristã na cidade de Braga e é uma tradição que passa de pais para filhos. Depois tem a vertente do convívio social, que as fogueirinhas de S. Vicente proporcionam e ontem (sábado) trouxeram muita gente ao adro da igreja”, explicou o pároco da freguesia, João Paulo Alves.


A festa, que também tem o seu lado pagão, congrega os vendedores dos conhecidos moletinhos de S. Vicente, que apenas são confeccionados duas vezes no ano, por altura da festa de S. José (Dia do Pai) e da festa do Mártir S. Vicente.

“Agora de manhã o negócio esteve um pouco fraco”, desabafou Graça Castro, que já é vendedora de doces desde “a barriga da mãe”, já lá vão 52 anos. Apesar da crise, a vendedora lá foi referindo que “ninguém vai para casa sem moletinhos”, explicando que vende “os moletinhos parolos, que são ligeiramente diferentes dos outros convencionais”.

No adro da igreja estava também Isaura Carvalho, uma das vendedoras de velas. Apesar de ninguém ir ao santo sem levar uma vela, Isaura assegurou que o negócio “está mau”. E justificou: “somos tantos a vender como a comprar”. A vendedora marca presença há muitos anos nesta festa, mas este ano “talvez seja o último”, porque “a saúde já não deixa”.

Azulejos e baptistério requalificados

A igreja de S. Vicente esteve, até Setembro do ano passado, em obras. “Depois de recuperar os azulejos e o baptistério, agora é preciso fazer o tratamento da talha do altor-mor”, confidenciou a tesoureira da irmandade, Manuela Braga.
Após uma primeira operação de salvaguarda dos azulejos da Igreja de S. Vicente, em 2006, a Irmandade do Mártir S. Vicente prosseguiu as obras de contenção, restauro e conservação de um conjunto de azulejaria. Os paroquianos “financiaram” as obras, que rondaram os 69 mil euros, permitindo recuperar o restauro dos azulejos da capela-mor, coro baixo e baptistério.

23-01-2012 - Correio do Minho

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